domingo, outubro 08, 2006

António Branquinho Pequeno
Mestre e Amigo




Já passaram sete distantes e presentes anos, desde o meu primeiro contacto com o Internacional Posicionista Dimensionista Libertário Branquinho Pequeno, como discente da disciplina de “Introdução ao Pensamento Contemporâneo”. Um docente com uma visão interdisciplinar, crítica e pouco conformista que de entre as suas reflexões e pensamentos, ressaltava a vontade de ensinar, alertando que, “para se inovar tem que se ir contra”, como fez Pablo Picasso, quando apresentou no “Bateau Lavoir”, em 1907, a pintura (anti-académica) que viria mudar o rumo da Arte Moderna – “Les demoiselles d´Avignon”.

Recordo os saudosos tempos da sua galeria de arte “O Anexo”, onde tertúlias deambulantes, alimentavam a presença de todos os que se iam deixando ficar. Actos cénicos falados, palavras ditas e objectos longínquos que eram recordações presentes. As palestras; os petiscos; as intervenções e performances; as Instalações; as exposições de artes plásticas com a representação de obras de vários artistas (António Inverno, Mário Alberto, Márcio Campos, Luís Guedes, Manuel de Almeida, Manuel Viana, Branquinho Pequeno, Saldanha da Gama, entre outros); a música variada com apontamentos de fado, jazz, blues, música africana, com a presença de vários músicos, entre outros: Manuel Guimarães (Piano), N´Gafa (Percurssão), Locas (viola clássica e guitarra eléctrica), Gustavo Brandão (Guitarra eléctrica e voz), Luísa Brandão (voz - Soprano do teatro de S. Carlos), Manuel Gomes (guitarra portuguesa), Fernando Gomes (viola clássica).
Várias personalidades se apresentavam igualmente nas sessões de “O Anexo”, sempre acompanhadas das suas histórias e das suas vidas. Lembro-me do excelentíssimo Roque Gameiro, do pintor e poeta Ernesto Mello e Castro (que recentemente apresentou uma retrospectiva da sua obra no Museu Serralves), da poetiza Amélia Vieira, do escritor e jornalista Alfredo Margarido, do pintor (“do matérico”) espanhol Gonzalez Bravo, do pintor e cenógrafo Mário Alberto (antifascista visceral e sobrevivente do Parque Mayer), entre outros.


Hoje sobrevivem estas memórias....
Mas para falar da sua pintura, nada melhor do que apresentar excertos de textos de catálogo, da autoria de respeitosos amigos de longa data de Branquinho.

“Na forma que virdes existe sempre uma alma que lhe dá corpo. Não existe o imaterial modo de ser, como não existe o nada. Tudo casa em nós o impossivelmente necessário. Entre veleiros e velas, o corpo serve de base à alma que o transporta.
Até a terra, serve de disco ao novelo que nos astros a movem.
E quanto mais quizerdes esse universo inteiro, mais tendes que o sentir no tacto repleto de vida, que é em cada um de nós o culminar da alma prometida.”
Amélia Vieira

“...Esta maneira de trabalhar mobiliza tanto o corpo, como os materiais: é uma maneira de fornecer à invenção a matéria sem o qual ela não pode afirmar-se. Branquinho Pequeno quer sobretudo atingir o músculo, o osso e o nervo da pintura, recusando os compromissos flatulentos e as formas celulitosas. A pintura anicha-se nos vazios cuidadosamente preparados pela matéria, e os menores meandros de cor são portadores de sentido. O que é sugerido, as paisagens calcinadas pelo bafo austero do verbo, os horizontes queimados por catástrofes míticas, as arquitecturas abaladas pela sua própria incerteza, deve estar contido no movimento seco da espátula, tal como nas camadas da matéria pictórica.... “
Alfredo Margarido

Biografia

De passagem por Portugal onde foi preso político, evade-se do forte militar da Trafaria em 1963, ano em que se exila em França. Viveu e trabalhou também na Dinamarca, Suiça e Inglaterra. Agora está em Portugal, desde 1994, onde vive o exílio do interior.
Psicoterapeuta, pela Universidade de Paris III – Sorbonne. Hipnose clínica.
Linguista, pela Universidade de Paris VII (Jussieu).
Mais de 30 anos de docência universitária (1972 – 2006).
Trabalha actualmente na “Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias” de Lisboa (“Semiótica”, “Introdução ao pensamento Contemporâneo” e “Sociologia da Comunicação Social”).
Colunista. Colaborador de jornais e revistas, nacionais e estrangeiras.
Alguns milhares de páginas publicadas nestes últimos 25 anos.
- Autor de: “Espaces, Migrations et Communication”, de “Oceanos, Realidade e Imaginários” e de “Os Amores de Benedith e Allegra” (Teatro).
- No prelo: “Nomes Comuns Gente notória”.
- Artista Plástico
Participação em largas dezenas de exposições individuais e colectivas, em Portugal, França, Estados Unidos, Suíça, Bélgica.
Presente em colecções privadas, Museus e instituições.

Apresentação de Artistas Plásticos, Nacionais e Estrangeiros em textos de catálogo, nomeadamente: Costa Camelo, José David, Gonzalez Bravo (Espanha), Artur Bual, Constantin Cazan (Roménia), Manuel Viana, Jean Bernard Naudin (França), Delattre (Escultura – França), Mário Rodrigues, José Rodrigues, Karin Battefeld (Alemanha), Krajberg (Brasil), Fernando Direito, Jamal Lansari (instalações / cenários/pintura – Marrocos), Rodrigo Ferreira, Mário Alberto, Luís Guedes, Martins Pereira, José Coelho (Escultura), José Simão (Escultura).