quarta-feira, dezembro 19, 2007

TRIENAL DE ARQUITECTURA DE LISBOA
Fotografia de João Morgado
Durante dois meses de intensa actividade, Lisboa foi palco do maior evento de arquitectura já alguma vez visto em Portugal – a Trienal de Arquitectura de 2007. A par de outros acontecimentos internacionais, como a Bienal de S. Paulo ou a de Veneza, este "festival de arquitectura" colocou o país no centro da crítica e reflexão arquitectónica, proporcionando um debate público oportuno em torno do tema "Vazios Urbanos", sendo de destacar o esforço e empenhamento de toda a equipa.
Os vazios urbanos – espaços expectantes e vazios de sentidos – potenciam, por si só, a degradação do ambiente urbano e, consequentemente, do tecido social. No processo evolutivo de uma metrópole, a má gestão territorial, que muitas vezes é originada por vontades políticas, especulação imobiliária e fortes interesses económicos, tem como resultado atroz a origem de espaços marginalizados, desprovidos de qualquer vivência ou racionalização urbanística. O território em desuso tem que ser pensado como um ponto de partida para a requalificação e revitalização das cidades. Assim, como busca de novas identidades, estes espaços "neutros" terão que possuir um carácter unificador e não rupturante na malha e no desenho da cidade, dando verdadeiro significado às palavras "espaço público" e criando o dinamismo e as sinergias tão necessárias na relação humana, mas sempre numa perspectiva em prol da sustentabilidade da urbe.
Ao longo do período da trienal, um conjunto de actividades (conferências, exposições, dança, música) distribuídas um pouco por toda a cidade, tendo sido o Pavilhão de Portugal o pólo central, permitiram uma aproximação pública às problemáticas e preocupações que derivam do grande chavão temático "Vazios Urbanos". Uma série de iniciativas concentrou inúmeros colaboradores, conferencistas, entidades públicas e privadas, universidades portuguesas e estrangeiras, arquitectos e outros profissionais de áreas distintas, que possibilitaram uma expressão interna-cional e uma visão interdisciplinar.
Segundo o arquitecto José Mateus, Comissário-Geral da Trienal, o balanço final é positivo, admitindo que existiram algumas falhas que deverão ser corrigidas para as próximas edições, depois do know-how adquirido nesta primeira. Contudo, é de salientar a Conferência Internacional "O Coração da Cidade", que reuniu oradores de várias nacionalidades e com diferentes visões. É de referir que, apesar da presença de importantes arquitectos, como o espanhol Emílio Tuñón, o japonês Kengo Kuma, o francês Dominique Perrault, o americano Thom Mayne ou ainda os portugueses Eduardo Souto de Moura, Carrilho da Graça e Graça Dias, lamentou-se a ausência da arquitecta iraquiana Zaha Hadid, apesar da presença desta ter sido confirmada.
Outra actividade que se destacou foi o ciclo de arquitectura e música, que ofereceu um espaço de cruzamento e partilha de experiências, de debate e estímulo, onde se reflectiu sobre as relações entre estas artes.
O concurso "Intervenções na Cidade" deixou igualmente um registo positivo, pela adesão que comportou, com um total de 146 propostas para diversos vazios urbanos de Lisboa, das quais 15 foram seleccionadas para exposição pública.
No Museu da Electricidade, destaque para a exposição monográfica da obra do arquitecto Siza Vieira. Um conjunto de esquissos, desenhos, maquetas, bem como fotografias, filmes e vídeos, ilustraram o percurso profissional do arquitecto portuense.
Destaca-se igualmente a conferência deste autor, que ocorreu no Centro Cultural de Belém, centrando-se na apresentação e discussão de um dos seus projectos mais recentes, a Fundação Iberê-Camargo, em Porto Alegre, no Brasil. Após o slide-show, que nos deu a conhecer o projecto pelas palavras do reconhecido arquitecto português, estiveram igualmente presentes na mesa os arquitectos José Mateus, Ricardo Carvalho e Gonçalo Byrne, que conversaram com Siza, estabelecendo um debate orientador de reflexões sobre a obra em questão e sobre o seu autor. Três gerações diferentes reunidas, que abordaram a arquitectura de Siza Vieira, partindo de pontos de vista e pressupostos diferentes, mas complementares.
Outro dos momentos altos foi a presença do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha (laureado com o prémio Pritzker 2006) no auditório do ISCTE, numa conferência que nos deu a conhecer alguns dos seus projectos.
Não menos importante foi a exposição, nos jardins da Gulbenkian, da instalação designada por Lisboscópio, criada pelo arquitecto Amâncio (Pancho) Guedes e o artista Ricardo Jacinto, a qual representou oficialmente Portugal na Bienal de Veneza de 2006
Já quase no fecho desta primeira edição, o prémio Carreira Internacional da Trienal de Arquitectura de Lisboa foi atribuído ao arquitecto italiano Vittorio Gregotti, pelas mãos do Presidente da República. Segundo Siza Vieira, patrono da distinção, o prémio distingue "um percurso profissional na arquitectura e uma personalidade com actividade profissional de referência no seu país e no mundo." O troféu foi desenhado pelo artista Pedro Cabrita Reis.
Aguardamos ansiosamente pela edição de 2010.
TEXTO PUBLICADO NA REVISTA ARCHINEWS
EDIÇÃO Nº 6 / OUT/NOV/DEZ 2007, PÁGINAS 20 E 21
POR MÁRCIO CAMPOS

1 Comments:

Blogger João Morgado said...

Agradeço os créditos fotográficos.

Abraço,
João Morgado

10:11 da manhã  

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