quarta-feira, agosto 20, 2008

O QUADRADO VERMELHO
POR MÁRCIO CAMPOS


Numa incessante busca da perfeição não encontrada, existem regras que nos transportam para um diáfano imaginário, imune de distorções. A procura de um equilíbrio das formas e de um rigor reflectido aproxima-nos muitas das vezes dessa perfeição não alcançável. O ponto, a linha e o plano, são elementos gráficos que, conjugados, se desmultiplicam numa infinidade de utilizações e representações. Para lá da percepção visual, existe a capacidade de certos estímulos serem recebidos e interiorizados de maneiras diferentes. A questão prioritária da utilização de um elemento gráfico com uma carga emotiva tão forte, prende-se com o facto de se estabelecer um conceito de intervenção ligado a um entusiasmo e a um estímulo que se pretendem transmitir de uma forma imediata. O quadrado vermelho é a forma, o conceito e funciona como uma linha condutora de uma mensagem, de uma história, de um momento.
Vivemos na desgastante era da globalização, do excesso, do usar, do plástico… A velocidade das “coisas”, o bombardeamento constante de informação, de imagens, de produtos, leva-nos a uma alienação do consumo e a um afastar atroz daquilo que será o essencial.
O Quadrado Vermelho não é só um nome. É uma imagem de marca. É um conceito, um significado, uma música, um objecto arquitectónico, um esquisso, uma pintura, um livro, um texto, ou simplesmente um pensamento. A proximidade do vermelho e a linearidade do quadrado são motivos aparentemente redutores e desprovidos de sentido mas, no cerne da sua junção, o equilíbrio é a fonte da razão e a experiência contemplativa, o acto de se racionalizar e interiorizar.
Neste sentido, para lá da forma, está a intenção, que se desmaterializa no conteúdo. Numa ferocidade transmitida subliminarmente, a ideia é o veículo vinculada ao conceito.
Em constante mutação, a sociedade necessita de impulsos para sentir alguns processos de transformação que, na maior parte das vezes, são apreendidos inconscientemente. Estes hiatos de reflexão são, certamente, possíveis caminhos de escolhas e decisões e, subjectivamente, contêm em si toda uma lógica inerente a cada indivíduo. No decorrer da humanidade, a evolução das mentalidades surge na sequência de um processo de aculturação. Cada momento na história tem a sua razão existencial, porque, o que outrora era prioritário, hoje não o é e o que hoje é necessário, amanhã não o será.
Fazer o essencial com o essencial é um chavão que importa transmitir. É a “regra de ouro” de cada intervenção e de cada idealização concretizada. Quase como um laboratório de ideias, a força motriz de cada abordagem é a base da solução para cada problema (encaremos o problema como a necessidade).
O carácter, a educação, a cultura, a sensatez, a liberdade, o sonho e a realidade, são o objectivo.
Segundo Casimir Malevitch (1878-1935), a sua pintura suprematista “define-se pela supremacia absoluta da sensibilidade pura”. A preocupação essencial era a relação entre as formas e o espaço que as circunda. O Quadrado Vermelho vai de encontro a estas sabedorias e pressupostos, na procura de um novo mundo através da negação do existente. A necessidade da busca da pureza das formas e a consequente libertação poderá induzir-nos a uma existência de ausência mas, sobretudo, de presença. A utilização de figuras geométricas simples e de uma gama cromática que se baseia, essencialmente, no vermelho (cor primária), no preto e no branco, estabelecem-se parâmetros orientadores de novos significados. O Quadrado vermelho é fruto da simplificação a que o excesso nos obriga, é sintomático de um novo processo de aprendizagem cultural e intelectual, “é a manifestação do nada revelado”, mas que é tudo, como se de uma antítese se tratasse. O Quadrado Vermelho contem em si toda uma carga simbólica que a leviandade estática e compulsiva da forma vai assumindo e que a reinterpretação de signos existentes vai permitindo. O Quadrado Vermelho resume-se mentalmente numa filosofia e desdobra-se abstractamente num conceito de intervenção.