sábado, novembro 28, 2009

/// UMA ARQUITECTURA QUE É PAISAGEM
Por: Márcio de Campos; Revista Archinews nº 14; pp 4 e 5

NESSA RELAÇÃO UMBILICAL COM A ENVOLVENTE, TODO O PROJECTO É PRÓ-DINAMIZADOR DE UM NOVO SENTIDO DE LUGAR, RESPEITANDO E EVIDENCIANDO A COMPONENTE NATURAL EXISTENTE. É NOTÓRIA A CONTINUIDADE ENTRE OS DIFERENTES ELEMENTOS, QUER NATURAIS QUER CONSTRUÍDOS...

Há projectos que, pela sua relação com o ambiente natural local, se revelam, por si próprios, como componentes integradores desse mesmo território. É o caso do projecto da sede do Parque Natural, em Chã de Caldeiras, na Ilha do Fogo, em Cabo Verde, da autoria do ateliê OTO (arq.tos André Castro Santos, Miguel Ribeiro de Carvalho, Nuno Teixeira Martins, Ricardo Barbosa Vicente), com o arq. Jorge Graça Costa (sustentabilidade e eficiência energética). Este foi o projecto vencedor de um concurso internacional.
Nessa relação umbilical com a envolvente, todo o projecto é pró-dinamizador de um novo sentido de lugar, respeitando e evidenciando a componente natural existente. É notória a continuidade entre os diferentes elementos, quer naturais quer construídos, eliminando-se qualquer presença interruptora. Segundo os autores, "o conceito é estender a zona vulcânica, assim como as várias espécies vegetais existentes no Parque Natural do Fogo, para a zona da nova sede administrativa, convidando os visitantes e locais a descerem até a cota inferior, de uma forma suave, através de percursos pedonais desenhados, criteriosamente, entre pedras vulcânicas".
Implantado sobre a esplêndida paisagem da Ilha do Fogo e com o vulcão como ambiente cénico de fundo, o volume insere-se no terreno sem o ferir, constituindo uma importante intervenção para aquela zona, do ponto de vista turístico, tornado-se num edifício de referência para Cabo Verde.
"Esta conjugação com o património natural, o vulcão e a cratera, único e de uma beleza rara no mundo, fará com que reúna as condições ideais para o reconhecimento do Pico do Fogo como património mundial", referem os autores.
Agarrado a Intenções aglutinadoras de um todo, o conjunto assenta sobre verdadeiros pressupostos sustentáveis e ambientais. De modo a reduzir o impacto do edifício no meio ambiente, toda a abordagem projectual não se limitou a questões programáticas, funcionais e estéticas, existindo a preocupação constante de fazer com que o edifício funcione autonomamente do ponto de vista energético, através da gestão racional dos recursos. Esta intenção lógica reflecte-se em sistemas de aproveitamento das águas pluviais, aquecimento e arrefecimento passivos, qualidade do ar e da água, maximi-zação da iluminação natural, energias de fontes renováveis, entre outros. Para além disso, a utilização de materiais e mão-de-obra locais, revela, igualmente, essa vontade de responder às necessidades e particularidades do local.
"O Parque Natural ganhará um edifício diferente em Cabo Verde, um pólo de atracção turística, além de centro de formação e de apoio a outras actividades".
De momento, o projecto está entre os 14 seleccionados para o festival WAF (World Architectural Festival), na categoria Future Projects - Cultural, com a co-autoria OTO+JGC.
Prevê-se o arranque da obra no início de 2010, estando a conclusão programada para 2011.